25 de nov. de 2010

A FAVELA NÃO É A CULPADA

Por Bernardete Toneto, Segurança Pública

A ocupação dos morros pelas organizações criminosas levou à criação de um estereótipo: favela é lugar de bandido. Será?
"Barracão de zinco, sem telhado, sem pintura, lá no morro barracão é bangalô. Lá não existe felicidade de arranha-céu, pois quem mora lá no morro já vive pertinho do céu." Os versos do samba "Ave-Maria no Morro", composto em 1942 por Herivelto Martins, revela uma época em que a favela era sinônimo de beleza e melancolia. Da mesma forma que a visão era errada nas décadas de 1930 a 1950, hoje também as favelas - em especial as do Rio de Janeiro - não são reduto do crime organizado, como noticiam os meios de comunicação social e faz supor a nossa vã filosofia.
Até a primeira metade do século XX, muitas músicas enalteciam o morro como lugar de amizade e solidariedade. O romantismo era tão grande que os compositores Cartola e Carlos Cachaça (ambos moradores do Morro da Mangueira) e Hermínio Bello de Carvalho compuseram o samba "Alvorada", cuja letra proclama: "Alvorada lá no morro que beleza. Ninguém chora, não há tristeza, ninguém sente dissabor. O sol colorido é tão lindo, e a natureza sorrindo, tingindo, tingindo a alvorada."
A poesia foi uma forma de camuflar a realidade. A primeira favela carioca foi a do Morro da Providência, antigo Morro da Favela. A ideia da época era limpar as regiões centrais da cidade, dando um ar de modernidade à capital da República. Por isso, em 1893, os pobres que viviam em cortiços, como o da Cabeça de Porco, foram enviados para os morros sem nenhum tipo de atendimento e de infraestrutura habitacional. Logo depois chegariam os soldados que haviam lutado na Guerra de Canudos, no sertão nordestino.
Assim, o Rio de Janeiro passou a ser sinônimo de favelas, consideradas guetos de pobres e da marginalidade.

Rio 40º

Infelizmente estamos passando por dias horríveis na cidade que, apesar dos pesares, insistimos em chamar de Maravilhosa. Há tempos que já não podemos chamá-la assim. Mas, por uma espécie de ilusão confortante - e necessária, na maioria das vezes - achamos que ainda moramos num lugar privilegiado.
É. Talvez.
Temos do que nos gabar, realmente. Temos praias, paisagens e pessoas maravilhosas, entre outras coisas. Mas, em contrapartida, temos a cidade do Brasil melhor equipada quando falamos em armas de fogo. Podendo ser assemelhada à Colômbia. Só que na Colômbia, metade do país é dos bandidos e, a outra metade, do Governo. Aqui, nem sabemos mais se o Governo manda em alguma coisa.
Só nos resta rezar. Pedir à Deus que a "paz" volte a reinar novamente. Pelo menos, a "paz" que já estamos acostumados.
Boa noite!